Esteatose Hepática

abril 05, 2017


A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) caracteriza-se pela infiltração gordurosa do fígado (esteatose), que pode ser diagnosticada em exames por imagem, podendo ou não estar associada às alterações necro-inflamatórias e fibrose (esteatoepatite) diagnosticada pela biópsia hepática, e pode evoluir para cirrose e carcinoma hepatocelular. Ocorre em indivíduo sem história de ingestão significativa de álcool, que não apresentem outra doença hepática que possa justificar a esteatose e na maioria dos casos está associada à síndrome metabólica.
Os fatores de risco mais frequentes para DHGNA são obesidade, diabetes tipo 2 e dislipidemia. Entretanto, essa condição pode estar associada ao uso de alguns medicamentos, esteróides anabolizantes, toxinas ambientais, e a outras doenças como síndrome da apneia do sono, hipotireoidismo, e síndrome do ovário policístico.


Os índices de mortalidade em pacientes com esteatoepatitie (NASH) são maiores do que na população normal. As doenças cardiovasculares são as causas mais frequentes, seguidas das complicações da cirrose e do carcinoma hepatocelular.
Para a caracterização da DHGNA deve ser considerado como fator de exclusão o consumo significativo de álcool mais do que 140g/ semana para os homens (± 21 doses) e 70g/semana para mulheres (± 14 doses).
Alguns estudos têm sugerido que o consumo moderado de bebidas alcoólicas (<20g/ dia ou <140g/semana) pode exercer efeitos favoráveis sobre o fígado, como por exemplo, melhorar a resistência à insulina e as alterações necro-inflamatórias na histologia. Contudo, na ausência de ensaios clínicos controlados, não se recomenda, na prática médica, o consumo de bebidas alcoólicas para pacientes com DHGNA.

Diagnóstico
Em pacientes com outras doenças hepáticas crônicas que apresentam concomitância de DHGNA (esteatose ou esteatoepatite) recomenda-se investigar os fatores metabólicos e doenças associadas à DHGNA.
Pacientes com DHGNA devem ser submetidos a investigação de fatores metabólicos de risco e de fatores de progressão da doença no fígado.
Avaliação clínica e laboratorial (enzimas e função hepática) e US abdominal são importantes para o diagnóstico diferencial da DHGNA com outras doenças hepáticas como hepatite viral alcoólica, hepatite induzida por medicamento, doenças hepáticas autoimunes, e doença de Wilson. Entretanto, em muitos casos é necessária a realização da biópsia hepática e estudo histológico.
No diagnóstico da DHGNA a ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, e espectroscopia por ressonância magnética podem ajudar na avaliação da esteatose, no entanto, esses testes não podem ajudar a distinguir esteatose de esteatoepatite.

NAFLD Fibrosis Score (NFS), APRI, FIB-4 e elastografia transitória podem colaborar no diagnóstico da fibrose hepática nos pacientes com DHGNA.
A biópsia hepática deve ser recomendada nas seguintes situações: pacientes com suspeita de esteatoepatite e no diagnóstico diferencial com outras doenças crônicas do fígado, pacientes com DHGNA com risco elevado de ter esteatoepatite e/ou fibrose avançada sugerida pelos marcadores sorológicos e/ou elastografia hepática, pacientes com enzimas hepáticas (ALT/AST) elevadas por mais de 3 meses, pacientes portadores de Síndrome Metabólica não controlados com medidas comportamentais depois de 6 meses.
As evidências atuais não suportam o uso da biópsia hepática como acompanhamento sequencial na rotina clínica em pacientes com esteatose ou esteatoepatite.
A biópsia do fígado pode ser recomendada nos casos de elevação persistente de ferritina sérica e aumento da saturação de ferro, especialmente para um genótipo homozigotos ou heterozigotos para mutações C282Y no gene HFE.
A biopsia hepática não é recomendada em pacientes com esteatose hepática assintomática que foi detectada por exame de imagem e tem enzimas hepáticas (ALT e AST) normais.
Não é recomendado o rastreamento sistemático de DHGNA para membros da família de pacientes com DHGNA.
Não existe uma definição de política de rastreamento para avaliação de pacientes com alto risco de DHGNA.
Os pacientes cirróticos ou com esteatoepatite e fibrose grau III devem ser rastreados para varizes gastresofágicas.
Considera-se que ainda não existam evidências científicas suficientes para rastreamento do carcinoma hepatocelular (CHC) em pacientes todos pacientes com diagnóstico de NASH. Os pacientes cirróticos com NASH devem ser incluídos nos mesmos protocolos para rastreamento de CHC em portadores de outras doenças do fígado.
Em pacientes com diagnóstico de esteatose hepática detectados em exames de imagem, mas que apresentem sintomas ou sinais atribuíveis a doença hepática, ou perfil hepático alterado, recomenda-se investigar a DHGNA e seguir os pacientes.
Em pacientes com diagnóstico de esteatose hepática detectados em exames de imagem, mas que não apresentem sintomas ou sinais atribuíveis a doença hepática, ou perfil hepático alterado, recomenda-se avaliar os fatores de risco metabólicos (obesidade, intolerância à glicose, a dislipidemia), doença alcoólica do fígado, e as outras causas de DHGNA.
Recomenda-se uma avaliação mais completa da doença hepática autoimune quando os níveis séricos de auto-anticorpos estão elevados, ou quando o paciente apresenta características sugestivas de doença hepática autoimune (aminotransferases e globulina elevada) ou presença de outra doença autoimune associada.

Tratamento não medicamentoso
Em pacientes com sobrepeso ou obesidade, a perda de peso orientada por dietas equilibradas e adaptadas as condições clínicas apresentadas pelos pacientes, associada a atividade física é recomendada para o controle da DHGNA.
Recomenda-se que a dieta de pacientes com DHGNA tenha baixo teor de carboidratos e de frutose, mas não dever se restringir muito o consumo de carboidratos. Deve ser lembrado que não é a frutose da fruta ou industrializada o fator de risco para esteatose, mas sim o excesso de calorias ingeridas.
Recomenda-se a realização de exercícios por pelo menos 150 minutos por semana. Essa atividade pode reduzir a quantidade de gordura no fígado.
A perda de, pelo menos, 3-5% do peso corporal em 6 meses parece ser necessária para melhorar a esteatose, mas uma perda maior de peso (até 10%) pode ser necessária para melhorar a esteatoepatite.
Todos os pacientes de DHGNA devem ser submetidos a intervenções que visem promover um estilo de vida mais saudável e um controle rigoroso de fatores de risco metabólicos associados com DHGNA.

Tratamento medicamentoso
É recomendado o uso de vitamina E (800 IU/dia) para pacientes com diagnóstico de NASH na histologia. Entretanto, os efeitos colaterais devem ser observados.
Não há evidências para a recomendação da vitamina E (800 IU/dia) para pacientes diabéticos, para aqueles sem biópsia hepática e com cirrose hepática.
A pioglitazona pode ser usada para tratar esteatoepatite comprovada por biópsia. Observa-se melhora os níveis de ALT, a esteatose e a inflamação hepática, no entanto, destaca-se que a maioria dos pacientes com DHGNA que participaram nos estudos clínicos com pioglitazona não eram diabéticos, e a segurança e eficácia a longo prazo de pioglitazona para esses pacientes não está estabelecida.
A metformina não é recomendada como medicamento específico para o tratamento de NASH, porque não apresentou em estudos controlados melhora histológica. No entanto, em pacientes com NASH, a metformina pode melhorar a resistência à insulina, os níveis de enzimas hepáticas e contribui com o controle do peso dos pacientes.
A administração de estatinas pode ser considerada como uma opção de tratamento para a dislipidemia e redução de complicações cardiovasculares em pacientes DHGNA. Entretanto, não são recomendadas para o tratamento específico da NASH.
As estatinas podem ser usadas para tratar a dislipidemia em pacientes com esteatose e NASH, pois não há evidência que mostre que as estatinas causam um aumento do risco de lesão hepática induzida pelas drogas para esses pacientes.
É prematuro recomendar o uso de ácidos graxos ômega-3 para o tratamento específico da esteatose ou NASH, mas eles podem ser considerados como agentes para o tratamento em pacientes com DHGNA e hipertrigliceridemia.
O ácido ursodesoxicólico não é recomendado como medicamento específico isoladamente para o tratamento de DHGNA/NASH pela ausência de evidências científicos de melhora da doença.
Fatores de risco metabólicos associados com DGHNA devem ser tratados de acordo com a necessidade clínica de cada paciente e os medicamentos devem ser administrados quando necessário.
O uso de pioglitazona e vitamina E, especialmente se associado com um estilo de vida modificado, é custo benéfico em indivíduos com NASH e fibrose avançada. No entanto, a pioglitazona e a vitamina E não estão isentos de efeitos colaterais e secundários.
Não há dados que suportem o uso de vitamina E ou pioglitazona para melhorar a doença hepática de pacientes com outros tipos de doenças hepáticas crônicas que coexistem com DHGNA e NASH.
A utilização de medicamentos ditos hepatoprotetores como silimarina, metionina, betaina, metadoxil, entre outros, não apresentam dados científicos que permitam sua indicação no tratamento da DHGNA.
A utilização de prebióticos, probióticos e suplementos nutraceuticos ainda não apresentam dados científicos que suportam sua recomendação no tratamento da DHGNA.

Tratamento cirúrgico
A cirurgia bariátrica não é considerada um tratamento específico para a DHGNA, mas pode ser indicada em pacientes obesos elegíveis para tratamento da obesidade grave.
Entretanto, em pacientes com cirrose estabelecida, a sua indicação fica reservada para pacientes com função hepática preservada e sem hipertensão portal.
O transplante de fígado para pacientes com DHGNA/NASH obedece aos mesmos critérios utilizados para as doenças de fígado de outras etiologias.

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1 comentários

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